16 de mar. de 2016

O Caminho da Individuação e Alquimia



Começo uma série de textos que apontam a relação entre o processo de individuação (proposto na teoria junguiana) e a Alquimia, e suas consequências no trabalho psicoterapêutico.
Para Jung, a psique se desenvolvia de forma criativa, ampla, dando ao indivíduo a possibilidade de tornar-se alguém capaz de fazer escolhas autênticas e responsáveis. De forma geral, esse é o processo de individuação - o homem que sai da massa para tornar-se ele mesmo!
E para entender esse processo, Jung buscava a finalidade do desenvolvimento da psique - para onde aponta as questões apresentadas? Qual é o significado da angústia e para que serve? E ele denominou de Metanóia justamente o momento em que o homem entra em contato com essas questões fundamentais:
Para que estou aqui?
Para onde vou?
Quem sou eu?
Esse é um momento em que um universo muito amplo se abre em sua frente, e ele se dá conta de descobertas arquetípicas da personalidade, prevenientes do inconsciente coletivo, dirigidas pelo Self. Lembrando que Jung trabalha com dois centros psíquicos - o Ego e o Self, e a compreensão da vida nessas duas dimensões -  pessoal e arquetípica - possibilita a transformação do ser humano de uma forma muito mais ampla.
Jung entrou em contato com a filosofia chinesa, através do livro "O segredo da flor de ouro", e percebeu que as imagens alquímicas guardavam uma correspondência muito próxima ao processo de individuação. Os alquimistas escreviam muitos tratados, mas também desenhavam e Jung ficou fascinado por toda aquela linguagem simbólica.
A Alquimia pode ser considerada um modo de olhar o mundo. Uma de suas raízes vem do Egito, com o estudo para embalsamar o corpo dos faraós. Eram estudos secretos a serviço de algo sagrado, com objetivo de transformar o faraó em Deus. Era uma ação do homem sobre a natureza, procurando fazer transmutação, não só física, mas espiritual. 
Encontramos outra raiz na Mesopotamia, berço da civilização, onde surgiu a escrita. Lá eram realizados estudos dos metais, e também era uma atividade considerada sagrada - transmutar o ferro em ouro, ou dito de outra maneira: transmutar o metal não nobre em metal nobre. 
A terceira raiz vem do pensamento grego, com os filósofos pré-socráticos, que procuravam entender o sentido das coisas, sempre na relação homem/natureza. Para eles, o homem (microcosmo) carrega em si todos os aspectos da natureza (macrocosmo), e essa é uma compreensão alquímica - tudo o que está dentro, está fora. Não há separação entre esses dois planos. Podemos perceber a íntima relação desse modo de compreender a vida com o escrito alquímico conhecido como "Tábua de Esmeralda", que traz o seguinte registro:O que está abaixo é como aquilo que está acima, e o que está acima é semelhante àquilo que está abaixo, para realizar os prodígios da coisa única.
Os alquimistas foram percebendo que o trabalho que realizavam com os metais tinham uma repercussão com o que estava acontecendo dentro deles. Eles perceberam que não estavam trabalhando só com a matéria. Portanto, podemos dizer que a Opus Magnum (trabalho realizado pelos alquimistas) relaciona-se com o processo de individuação do Homem, enquanto sua "Grande Obra".
Se pensarmos o homem massificado da era moderna, podemos entender a busca do autoconhecimento como a realização de uma grande obra, pois ao ter consciência arquetípica da existência, o ser humano caminha em direção à sua forma própria, assume seus contornos autênticos, e isso reverte para o bem do todo! Um dos caminhos que levam ao autoconhecimento é o processo psicoterapêutico. 
Ilustrando essa relação entre a busca própria que reverbera de forma mais ampla na teia universal, recorro à sabedoria dos povos indígenas que praticavam o ritual do sol, com o seguinte objetivo: "Fazemos isso para ajudar o Pai Sol a se levantar, não só por nós, mas pelo universo todo, senão é o fim, o Sol não vai nascer". 
Assim, precisamos retomar o contato com essa integração, para nos sentirmos mais inteiros, estarmos mais perto de nosso Self
O Self é nosso ouro interior e precisamos ter paciência, coragem e perseverança para realizarmos a nossa Opus Magnum.  

No próximo texto da série discutiremos as características da Opus Magnum, fazendo correlações com o processo psicoterapêutico. 



Nenhum comentário:

Postar um comentário